Tuesday, August 31, 2010

Sensory-Based Motor Disorder (SBMD)


Sensory-Based Motor Disorder (SBMD)- Transtorno Sensorial de Base Motora - é o problema em estabilizar, mover-se ou planejar uma série de movimentos em resposta a um estímulo sensorial.

Esta modalidade ocorre nos sentidos "escondidos", proprioceptivo e vestibular (músculos, movimento e gravidade) pois não respondem de uma forma que o indivíduo consiga perceber seu próprio corpo no espaço e controlar precisamente seus movimentos.

O sistema proprioceptivo permite que nós percebamos aonde estão as partes do nosso corpo em relação uma das outras e manda os sinais de quanto esforço deveremos colocar nos nossos músculos para mover o nosso corpo.

O sistema vestibular nos mantem informados de onde estamos no espaço, da posição da nossa cabeça.

Crianças com Transtorno Sensorial de Base Motora tem dificuldade em seqüenciar movimentos.

Dentro do grupo de transtorno sensorial de base motora a criança pode ter:

Dispraxia que é a dificuldade em traduzir informações sensoriais em movimentos físicos, movimentos novos ou movimentos com etapas múltiplas.

Esta dificuldade pode ser na área motora grossa e por estas crianças não terem um natural senso de onde seus corpos estão no espaço e em relação às outras pessoas e objetos, é comum que estas crianças tropecem ou trombem em pessoas e coisas constantemente.

A dispraxia motora fina geralmente se torna evidente pela dificuldade da criança de alcançar objetos, segurar objetos pequenos e liberar de suas mãos objetos intencionalmente.

A habilidade de executar trabalhos escolares também é profundamente afetada.

E a criança pode apresentar dispraxia oral que são as dificuldades em torno da boca com o uso da língua, lábios e músculos da boca. Geralmente estas crianças tem dificuldade com sugar, engolir e respirar profundamente, além da dificuldade de manter a boca fechada causando que a criança babe.

Crianças com dispraxia geralmente têm pouca tolerância frente a frustrações e pouca auto-estima causadas pela extrema dificuldade de realizar atividades básicas.

Problemas Posturais é a dificuldade em manter o controle adequado do corpo para efetuar tarefas motoras. Baixo tônus muscular causam os problemas de postura, baixo tônus muscular nas costas e abdômem influenciam todas as posturas, da escrita às brincadeiras de parquinho e baixo tônus muscular na região da boca pode dificultar o controle do maxilar inferior que causará inúmeros outros problemas relacionados a boca, da baba a respiração incorreta, passando pela fala e mastigação.

Quando as crianças têm um bom controle da postura conseguem utilizar seus corpos efetivamente, elas conseguem puxar, empurrar, alcançar e resistir e empenharem a força necessária para completarem as tarefas do cotidiano.

A postura correta do corpo nos proporciona uma base estável, porém móvel para o movimento da cabeça, olhos e membros.

Bibliofrafia:

Sensational Kids - Hope and Help for Children with sensory Processing Disorder (SPD) by Lucy Jane Miller, Ph.D., OTR

Sensory seeking - nossa experiência


O Pedro é uma criança em constante movimento, coloca as mãos em tudo, pula, corre, mexe a cabeça, vai de encontro aos móveis e paredes, agarra, aperta, amassa as pessoas, coloca areia na boca, lambe postes, cheira canetinhas, dá gritinhos só para ouvir a própria voz, tudo isso desde bem cedo no dia, por volta das 6 da manhã.

Quando no trampolim ele começa a pular sozinho, depois quer a presença de um adulto (mais pesado que ele) assim o reflexo do pulo da outra pessoa dá mais input ao seu salto, depois ele se joga de costas no trampolim com um salto, depois ele pede para ser "basketball" que é uma brincadeira inventada com o pai em que o outro pula e dá impulsos no Pedro deitado no trampolim como se ele fosse uma bola de basket. É assim que ele escala em busca de mais estímulo sensorial.

Adora passar as coisas no rosto, coloca areia, folhas, terra na cabeça, está em constante busca por estímulos sensoriais e nada parece saciar a sua “fome”.

As palmas das mãos, plantas dos pés, rosto e região genital são as áreas do corpo que tem mais sensores em que os estímulos sensoriais são percebidos com mais intensidade.

Quando ainda morávamos nos EUA, durante o mês de verão o Pedro ia para o jardim, descalço às 6 da manhã e lá ele corria, pulava, brincava no balanço, colocava a mão na terra como táticas para suprir sua necessidade sensorial enquanto eu ainda abria os olhos e o irmão dormia.


Nos meses de inverno e dias de chuva na primavera o Pedro ficava no nosso “indoor park” que era um quarto da casa cheio de brinquedos que estimulam o sistema vestibular e proprioceptivo.


Até hoje o Pedro precisa de auxílio para canalizar a energia, temos que levá-lo a caminhadas, supermercado em que ele empurra o carrinho, ajuda a carregar as compras, andar de bicicleta e eu arduamente estou tentando estimular a Yoga. Nos finais de semana temos que fazer um revezamento, meu marido e eu, e enquanto um sai com o Pedro para direcionar seu excesso de "energia" o outro descansa com o irmão.

O que eu percebi é que o mover-se por mover-se sem engajar o cognitivo faz muito pouco (até mesmo nada ou prejudica) a organização do processamento sensorial do Pedro, por isso eu tento canalizar a busca sensorial do Pedro com algo que tenha um objetivo, os esportes são ótimas ferramentas que podem ser exploradas nesse sentido.


Além disso eu faço uso de essências pela casa, velas com cheiro doce como baunilha ou morango além de dar o estímulo no olfato acalmam pela essência. a terapia da escovação, massagem com vibrador elétrico, massagem nos pés com hidratante de hortelã, música suave como música Celta ou Bethoveen, limito ao máximo o tempo de televisão, meus filhos ainda não tem acesso mínimo ao computador, engajo nas rotinas da casa com as atividades do RDI incorporando carregar e puxar para trabalhar os músculos, alimento todos os sistemas sensoriais para diminuir essa fome constante, e assim vamos tocando a vida.

Para as crianças que são sensory seeking apenas dizer “fique quieto” tem pouquíssimas chances de surtir efeito por mais de 3 segundos, mas se elaborada uma dieta sensorial a criança vai estar “nutrida” sensorialmente e assim terá mais disposição para focar a atenção.

Se o ambiente é na escola, a criança pode mover as cadeiras, empurrar contra a parede, carregar livros, levar bilhetes para outras salas antes das tarefas que requeiram concentração e que tenha que ficar sentado.

Se a criança for sensory seeking na boca, que é a região que tem o maior poder de organização sensorial no nosso corpo, você pode oferecer alimentos que estimulem essa organização como mastigar cenoura crua, tomar iogurte ou outra bebida espessa pelo canudinho, mascar chiclete, se a mãe e a escola permitirem.

Wednesday, August 25, 2010

Under-responsivity - nossa experiência


O Pedro até por volta dos 5 anos e meio foi uma criança muito tranquila, e até certo ponto, nunca deu muito trabalho, parecia não se importar com nenhum estímulo e não tinha resistência a mudanças.

O grande problema foi pelo fato dele "não dar trabalho", no jardim de infância as professoras consideravam ele reservado, mas como ele não incomodava ninguém, esse comportamento pouco natural para uma criança entre 1 e 2 anos não foi encarado como um problema. Já em casa, nós acreditávamos que ele era hiperativo, ou agitado pelo menos, isso acontecia porque o Pedro tem duas formas de distúrbio de modulação sensorial - sensory modulation disorder (SMD), ele é under-responsivo (resposta baixa ou inexistente) e Sensory Seeking (constante busca por estímulos sensoriais).

No tempo que o Pedro passava no jardim da infância, os estímulos não eram suficientes para fazer com que o cérebro dele mandasse comandos de ação, de curiosidade, mas ao mesmo tempo a sua fome por estímulos sensoriais crescia e em casa, um ambiente que ele se sentia seguro, começava sua busca incansável por estímulos sensoriais, muita desta busca está ligada ao sistema vestibular e isso é o que impele a agitação.

Após o diagnóstico, já aos 3 anos, nós enfrentamos o mesmo problema na pré-escola de educação especial, ele não incomodava, ficava "desligado" num canto da sala e precisava de uma auxiliar para movê-lo de um lado para o outro, em casa parecia um vulcão em erupção.

Vocês podem imaginar o quanto eu fiz o papel de mãe louca frente as escolinhas com a preocupação que o Pedro era hiperativo, e foi somente quando ele estava com 4 anos que eu descobri a resposta para essa quietude na escolinha (que eu não acreditava) e o vulcão em casa (que a escolinha não acreditava).

Com esse conhecimento, foi possível traçar um plano para aumentar o estado de alerta do Pedro quando na escola e foram implementados programas para que ele fosse "obrigado" a estar envolvido na rotina da escola, assim ele deixava de ser um expectador passivo para ser um aluno atuante. Não foi uma mudança fácil, houve muita resistência por parte da escola alimentada pela resistência do Pedro, mas quando essa mudança aconteceu, em pouco tempo surgiu um "novo" Pedro na sala de aula e assim o sonho da integração começava.

O fato do seu sistema sensorial ser under-responsivo causa um enorme atraso na resposta ao estímulo. Segundo nossas observações o Pedro tinha um atraso de 15 a 30 segundos na resposta ao estímulo. Na prática, isso aparece como uma não reação e depois uma ação sem lógica.

Um exemplo é de um dia o Pedro passou espremido entre a mesa da cozinha e a geladeira e bateu a cabeça na geladeira, pareceu não sentir o golpe e 20 segundos depois, já no meio do jardim, começou um choramingo de reclamação.

Ele tinha uma resistência a dor muito grande e essa é a parte que mais me assustava pois poderia colocá-lo em risco.

Quando seu irmão Luís arrancava o brinquedo da mão do Pedro ele também tinha um atraso na reação e até nós descobrirmos isso creditávamos que ele não se importava que o irmão arrancasse os brinquedos da mão dele e ao mesmo tempo, parecia aborrecer-se por nada.

Para tentar auxiliá-lo a desenvolver uma reação mais rápida a consultora educacional da escola implantou um programa de ABA focado em fluência, com cartões de figuras, essa tentativa durou 4 meses e todas as pessoas envolvidas sentiam-se desconfortáveis com o programa pois ele ataca a lentidão como um comportamento que a criança controla e não como um problema de natureza sensorial da criança.

O Pedro também teve um programa de Terapia de escovação com o objetivo de abrir os canais sensoriais na pele.

Trabalhamos também um protocolo chamado Astronaut Training que visa regular o sistema vestibular e foca também na visão. Além disso ele usou prismas que ajudaram muito num primeiro momento a ele reconhecer o espaço que o corpo dele ocupava, o Pedro foi carinhosamente apelidado de "King Kong" por uma terapeuta por causa da maneira que ele se movia levando tudo a sua volta com ele para o chão.

Com uma consultora nós fizemos um programa chamado Tomatis Therapy que tem o objetivo de acelerar a resposta do Pedro e trabalha no plano sensorial com o sistema vestibular. Mais tarde nós passamos para o ILS que deriva da técnica Tomatis.

O tratamento do Pedro foi centrado na família, pois é assim que deve funcionar o tratamento de uma criança com SPD, pais e terapeutas são parceiros que desempenham papéis diferentes, porém essenciais.

Juntos, eles devem pensar sobre a rotina diária em que a criança está e assim trabalhar para atingir os objetivos que reflitam a cultura e valores da família.

Monday, August 23, 2010

The Wilbarger Protocol - Terapia da escovação



O Protocolo Wilbarger é um programa de terapia destinada a reduzir a defensiva sensorial ou tátil. As crianças que apresentam sintomas de defensividade tátil são extremamente sensíveis ao toque. Isso pode causar um medo ou resistência ao ser tocado, dificuldade de transição entre as atividades e / ou letargia. A terapia foi desenvolvida por Patricia Wilbarger, médica e terapeuta ocupacional.


Não há muita comprovação de pesquisa sobre o protocolo Wilbarger. No entanto, muitos pais de crianças com autismo têm relatado que veem diminuições na defensiva sensorial e ansiedade como resultado da utilização dessa técnica. Algumas das vantagens do protocolo Wilbarger podem incluir capacidade melhorada para a transição entre as atividades diárias, atenção melhora, diminuiu o medo ou desconforto de ser tocado, uma melhora da coordenação e auto-regulação.


A rotina completa de escovação geralmente leva apenas 2-3 minutos. O primeiro passo do tratamento envolve o uso de uma escova de plásico macia que é passada como uma escovação sobre a pele da criança, utilizando uma pressão muito firme, é como uma massagem de pressão profunda. Escovação começa nos braços, mãos, costas, pernas e pés. As áreas do rosto, peito e estômago nunca são escovadas, porque estas são áreas sensíveis que podem causar reações adversas.

A terapia da escovação é recomendada inicialmente a cada 2 horas, enquanto a criança está acordada. Os terapeutas normalmente re-avaliam o nível de escovação após duas semanas. Com base nessa observação o intervalo das escovações pode ser modificado. A escovação continua, enquanto há benefícios para a pessoa. É comum que se atinja momentos de plateu, então a escovação pode ser suspensa e retornar ou não posteriormente, conforme avaliação de observação.


Após a terapia de escovação, os terapeutas podem também prescrever dez suaves compressões nas juntas dos ombros, cotovelos, punhos, dedos, quadris, joelhos, tornozelos e esterno. Outra maneira de se obter a compressão nas juntas é fazer pole-chinelo, flexões de braços ou pular numa cama elástica.


Finalmente, o terapeuta pode também sugerir uma Técnica Táctil Oral. Esta técnica consiste em uma estimulação dentro da boca com o dedo percorrendo o interior da boca da pessoa. Isso é útil para crianças com defesa oral. (Estas crianças podem ter problemas com os alimentos por causa de sua textura ou recusam ter seus dentes escovados.)

Se você acha que seu filho iria beneficiar-se do Protocolo Wilbarger, é importante procurar a orientação de um terapeuta ocupacional. O TO deve ter conhecimentos de integração sensorial e saber como usar o protocolo Wilbarger. Se o tratamento for realizado de forma incorreta não será eficaz e pode ser e pode ser muito desconfortável para o indivíduo.

Sunday, August 22, 2010

Over-sensitivity - nossa experiência


O Luís é nosso segundo filho, então nada mais lógico que amamentar, trocar as fraldas e a hora do banho não sejam tarefas desafiadoras pois já tínhamos a experiência do primeiro filho, certo?

Certo se não fosse um detalhe, o Luís reagia de uma forma estranha e agressiva a essas simples rotinas diárias.


Por volta dos 4 meses o Luís desenvolveu um verdadeiro pavor ao banho, a hora do banho era um tormento para ele, para mim e provavelmente para os vizinhos por causa dos gritos.

Trocar as fraldas era um verdadeiro rodeio, e por volta de 1 ano e meio ele não podia suportar a sensação de uma fralda suja, nem por um segundo, tirava na hora e assim espalhava pelo chão.

Cortar as unhas, pés e mãos era outro tormento, tivemos que desenvolver um método de trabalho em equipe para executar essa tarefa, corte de cabelo também era outra situação traumática.


Hoje, consigo escrever sobre esses episódios com um sorriso no rosto pois eles fazem parte do passado, é certo que ainda precisamos de algumas técnicas para executar o corte de unhas e lavar os cabelos, mas o Luís desde os 3 anos e meio já se veste sozinho, usa o banheiro com perfeição, dia e noite, gosta de cortar o cabelo e até considera as idas ao cabeleireiro um programa legal, as unhas e lavar os cabelos ainda precisam de técnica, mas já e possível fazer com um só adulto na ação.

Algumas técnicas que ajudaram e ainda ajudam o Luís a controlar e superar as suas reações sensoriais:

Brushing Therapy também conhecida como Wilbarger Protocol
, esta é uma técnica usada para tratar disfunções de integração sensorial. Ela consiste de uma escovação pelo corpo com uma escovinha plástica cirúrgica bem macia e compressão nas juntas feitas gentilmente para estimular os nervos da pele, esta massagem funciona como um "organizador" sensorial e assim auxilia no controle das emoções.

http://www.youtube.com/watch?v=XV9AsyL7izI

Com crianças como o Luís que são extremamente sensíveis sensorialmente, este protocolo deve ser introduzido aos poucos, primeiro só escovar as mãos, depois escovar as mãos e fazer a compressão nas juntas e aos pouquinhos, conforme a criança vai se sentindo confortável você vai introduzindo mais a massagem com a escovinha.

Nós demoramos 1 ano e meio até conseguir fazer a massagem completa no Luís, mas depois de 15 dias que ele havia aceitado a massagem completa, passou a calçar qualquer tipo de sapato, e a não necessitar de meias o tempo todo. Isso foi uma grande conquista para nós, pois o Luís usava meias de inverno até na praia e era o primeiro impecilho para o banho, retirar as meias, aos 4 anos ele conseguia revezar o calçar em 4 pares de sapatos, 1 par de tênis, 2 sandálias e 1 par de chinelos, o que com 2 anos era inimaginável. Ele só aceitava um único par de sapatos e quando ficavam pequenos eu tinha que mover montanhas para encontrar um igual, tamanho maior.


Nós também utilizamos os princípios do ABA como quebra em pequeninas etapas para desinsetização do toque e texturas; muita análise para detectar o que incomodava no banho assim desenvolver uma estratégia.

Aplicamos uma pequena pressão nas pontas dos dedos antes de cortar as unhas, assim prepara o corpo a receber o estímulo do corte.

Aos 5 anos o Luís ainda tem algumas questões em torno do seu sistema sensorial, mas nada que o impeça de desfrutar a vida, ele gosta de abraços, mas desde que sejam de pessoas que ele realmente tem afeto, quando nervoso, ficar só ainda é a melhor estratégia, mas após a tempestade já gosta de colo para uma aconchego.

Marie

Friday, August 20, 2010

Sensory Modulation Disorder (SMD)

Sensory Modulation Disorder (SMD) -Transtorno de modulação sensorial - é um problema que está em tornar estímulos sensoriais em respostas comportamentais controladas que combinem com a natureza e intensidade do estímulo sensorial apresentado.

Esta dificuldade em detectar e tornar as informações sensoriais num comportamento/resposta apropriados podem trazer prejuízos para o desenvolvimento da criança por não conseguir se auto-regular.

Dentro do grupo Transtorno de modulação sensorial a criança pode ter:

Sensory-over-responsivity (de resposta sensorial exagerada) é o mesmo que sensory-defensiveness (sensorialmente defensiva) em que a criança responde as mensagens sensoriais mais intensa, mais rápida e mais prolongadamente do que uma criança com processamento sensorial típico.

Esta resposta "exagerada" pode ocorrer em somente um dos sentidos ou numa combinação deles.


A criança que é extremamente sensível na visão pode reagir de forma perturbada quando exposta a certos tipos de luz, cores ou um ambiente muito carregado visualmente.
Quando a sensitividade é na audição, provavelmente esta criança protegerá os ouvidos de barulho que para ela é excessivo e reagirá como se estivesse sofrendo uma agressão aos seus ouvidos, que é como, de fato ela percebe a sensação.

Quando essa sensitividade acontece no toque, a criança pode recusar colo, abraços, atividades diárias como banho, escovar os dentes, limpar o rosto podem ser verdadeiros obstáculos, corte de cabelo, unhas e outros hábitos de higiene também são um tormento, além de ser extremamente rígida na alimentação quando essa sensibilidade acontece na gustação ou tato na região da boca.
Quando a criança tem o olfato com esta desordem pode ter repulsa a certas comidas, lugares ou pessoas por causa do odor.

Muitas crianças com over-sensitivity também são rígidas a transições, isto acontece porque estas crianças precisam criar uma zona de conforto neste mundo que os sobrecarrega sensorialmente tentando evitar as mudanças (de atividades, lugares), pois estas mudanças sinalizam novos estímulos sensoriais.

Crianças que são over-sensitivas, geralmente alarmam os adultos em volta mais rapidamente pois o comportamento tipicamente é dramático e barulhento o que é impossível de ignorar.

Quando nós percebemos perigo, as partes do cérebro que são responsáveis por controlar as emoções é ativada. Informações no sistema proprioceptivo (juntas e músculos) e pressão (através da pele) viajam até essas mesmas áreas no cérebro e pode diminuir a atividade cerebral nessas mesmas regiões, diminuindo o impacto dos sinais de perigo percebidos pela criança e voltando as emoções a um estado de equilíbrio coerentes com o ambiente e ação.




Sensory-under-responsivity (de resposta sensorial baixa ou inexistente), estas crianças apresentam menos ou nenhuma resposta a uma informação sensorial. A reação pode ser mais lenta ou necessitar de mais estímulo para que ela aconteça.

Estas crianças são normalmente anti-sociais e preferem brincar solitariamente, preferem computadores ou leitura. Aparentemente, são imunes à dor, não reagem quando se machucam, nem mesmo quando sangram. Demoram a perceber sensações básicas como frio e calor.

Parecem indiferentes às pessoas e até parecem não notar quando alguém tenta buscar sua atenção.

O problema mais sério para uma criança under-responsive é o aspecto social. Aparenta não ter interesse por brincadeiras e é pouco comunicativa por parecer não ter nenhum interesse no ambiente e nas pessoas.

A aparente indiferença as reações das outras pessoas também é um sinal de under-responsivity.

Além de filtrar informação, o cérebro interpreta estas informações como negativas ou positivas e então estimula a ação conforme essa informação. A criança under-responsive não consegue fazer interpretação da emoção por trás das palavras de uma forma efetiva por isso, muitas vezes aparentam não se importar quando alguém fala bravo ou está frustrado com eles.


Sensory-Seeking (de consatnte busca por estímulos sensoriais), estas crianças têm uma necessidade, aparentemente, insaciável por experiências sensoriais o que leva a comportamentos socialmente inapropriados.

Quando privados das sensações que buscam desesperadamente, estas crianças reagem com agressão ou explosivamente. Muitas vezes esse desejo por sensação ou sensações pode colocá-los em risco e dar uma aparência que estas crianças não têm noção de perigo. Muitas vezes são conhecidos como "bagunceiros", "rebeldes" e "sem limites".


É comum que estas crianças não parem quietas. Isto acontece porque tocar, puxar, empurrar, cutucar, espremer e todas as outras formas de movimento geram sensações e isto alimenta os seus sistemas sensoriais.

Geralmente estas crianças têm dificuldade em permanecer sentadas ou não dormem bem. Eles têm dificuldade com atividades que promovam aconchego. São crianças que se movem, movem, movem ... e mexem em tudo!

Estas crianças precisam de uma dose extra de sensações para que a busca não atrapalhe tanto o seu desenvolvimento e convívio social.


Bibliofrafia:
Sensational Kids - Hope and Help for Children with sensory Processing Disorder (SPD) by Lucy Jane Miller, Ph.D., OTR




Diagnóstico não é tratamento!O tratamento leva tempo e persistência, baseados em muita observação.

Síndrome do Processamento Sensorial

Como já sabemos que as informações que nós recebemos são estímulos sensoriais não é difícil imaginar a tamanha importância que o sistema sensorial tem em nosso aprendizado, desenvolvimento, relacionamentos, auto-estima, enfim na vida como um todo na mais ampla forma.


Crianças com Síndrome de Processamento Sensorial (SPD) tem suas experiências sensoriais, como toque, gustação, olfato, audição, visão, movimento e outras sensações diferentes das pessoas com desenvolvimento típico. Algumas sentem as sensações mais intensas, enquanto outras não percebem a intensidade dessas sensações, e outras que simplesmente não decodificam a mensagem corretamente, plano pode ser sentido como curvo e outras sensações simplesmente são sentidas como a mesma coisa, frio/calor.

Pela razão dessas crianças com Síndrome de Processamento Sensorial não processarem as sensações da mesma forma que as outras crianças de desenvolvimento típico elas não tem o mesmo comportamento/resposta esperados e muitas atividades simples que parecem vir naturalmente não ocorrem e se tornam verdadeiros desafios para as crianças com essa síndrome. É quase natural que uma desordem total no desenvolvimento desta criança aconteça.

Dra. A. Jean Ayres explica e documenta em seu trabalho "Sensory Integration and Learning Disabilities" os problemas de comportamentos, sociais e emocionais que emergem quando uma criança não desenvolve uma forte base sensorial nos primeiros anos de vida.




Autismo ou Síndrome de Processamento Sensorial?


Apesar das dificuldades de comunicação serem comum nas crianças com autismo estas crianças variam consideravelmente em suas características, de fato, o autismo deve ser entendido como um espectro em si, assim como a descrição de dificuldades de aprendizado. O autismo não afeta, por si só, a capacidade de aprender e de entendimento, mas afeta o processamento de todos os sentidos.

É extremamente comum que crianças com problemas de desenvolvimento tenham mais de uma síndrome concomitante.

Muitas crianças com déficit de atenção, hiperatividade, síndrome obsessivo compulsivo, síndrome opositor, espectro autista entre outras também venham a apresentar SPD em alguma intensidade.





Processamento Sensorial e Síndrome do Processamento Sensorial



"Processamento sensorial refere-se a maneira que o sistema nervoso recebe as mensagens sensoriais e as transforma em respostas." Lucy Jane Miller, Ph.D., OTR

Nós temos cinco sentidos mais conhecidos: visão, audição, olfato, gustação e tato. E pelo menos, mais dois sentidos "escondidos", o sistema proprioceptivo e o sistema vestibular, que juntos são os sistemas responsáveis pela percepção dos músculos, juntas, pressão, velocidade e posicionamento do corpo.

A maioria de nós, nasce com a capacidade de receber as mensagens sensoriais e organizá-las, sem esforço numa resposta "correta" fisiológica e comportamental.

Se a criança, constantemente falha na organização dessas mensagens sensoriais incapacitando-a de uma reação esperada, essa criança tem uma disfunção do processo sensorial e atividades diárias, além das relações sociais e crescimento emocional serão impactados.

Para ilustrar uma resposta sensorial correta podemos tomar como exemplo uma criança em um parque, esta criança está posicionada num gramado, próxima de outras crianças que jogam bola, por acaso a bola vem em sua direção, a reação correta é abaixar ou colocar o braço na frente para proteção, caso a criança tenha essa resposta/reação, é muito provável que seu sistema sensorial processe as informações do meio harmonicamente, porém se a criança se assusta em excesso quase como se entrasse em pânico, ou é atingida pela bola porque não apresentou nenhuma reação, é muito provável que exista alguma falha no processamento sensorial, pode ser tanto da percepção do estímulo, quanto no processo que leve à reação motora apropriada.

SPD não produz um padrão de comportamento, o que é comum é a "falha" na resposta de um estímulo e essa falha pode produzir diferentes comportamentos em diferentes indivíduos.

De qualquer forma, SPD produz três diferentes sintomas clássicos com ramificações que podem ocorrer independente ou em combinação um com o outro e podem variar de moderado a severo. Que são: Sensory Modulation Disorder (Transtorno de modulação sensorial); Sensory-Based Motor Disorder (Transtorno motor de base sensorial); Sensory Discrimination Disorder (Transtorno discriminação sensorial).





Bibliografia
Love, Jean: Inspiration for Families Living with Dysfunction of Sensory Integration. by A. Jean Ayres, R. Erwin Philip e Zoe Mailloux.

Sensational Kids - Hope and Help for Children with sensory Processing Disorder (SPD) by Lucy Jane Miller, Ph.D., OTR

Building Bridges Through Sensory Integration. by Ellen Yack, Shirley Sutton and Paula Aqquilla.

Friday, August 13, 2010

A importância do como percebemos o mundo.

Diferentes áreas de funcionamento do sistema nervoso central determinam como nós sentimos, entendemos e reagimos ao mundo.
Como um primeiro esboço para entender estas particularidades biológicas do sistema nervoso central que fazem com que cada indivíduo perceba de forma única o mundo vale caracterizá-las por áreas de funcionalidade.

Do livro “The Child with Special Needs”, Stanley Greenspan e Serena Wieder classificam essas áreas de funcionalidade como:
Reatividade sensorial: a maneira que nós percebemos as informações através dos sentidos;
Processamento sensorial: como e quais sentidos nós damos às informações que percebemos no meio através dos nossos sentidos;

Tônus muscular, planejamento motor e seqüenciamento: a maneira como usamos o nosso corpo e, mais tarde, os nossos pensamentos para planejar e executar uma resposta para as informações que entram em nosso corpo através dos sentidos.

Quando esses três sistemas trabalham harmonicamente eles criam um ciclo contínuo de feedback no qual nós internalizamos sensações como imagens e sons, reagimos a essas sensações com nossas emoções, e tentamos processar e entendê-las e assim organizar nossos pensamentos e comportamentos, além dos nossos sentimentos para interagir harmonicamente com o mundo. Porém, quando uma ou mais partes desse sistema não funciona ou interage bem com os outros, nós perdemos capacidade de funcionar num óptimo estado.

Sem a habilidade de ver, ouvir, cheirar, degustar ou tocar nós viveríamos em total isolamento, seríamos incapazes não somente de sentir, mas também de pensar, pois nós não teríamos nenhuma experiência e as experiências são a base para desenvolver idéias.


Além dos 5 sentidos mais conhecidos, existem os sentidos internos do corpo: o sistema vestibular e o proprioceptivo, estes sistemas são responsáveis pela habilidade de conhecer e reconhecer o próprio corpo, saber aonde ele está no espaço, saber aonde o “eu” termina e o mundo começa.


Esses sentidos nos parecem tão invisíveis por serem automáticos nas nossas ações diárias, mas uma falha no funcionamento ou integração pode ser ilustrada com uma passagem do livro “Sounds of the Gorilla Nation”de Dawn Prince-Hughes: “Eu geralmente não conseguia perceber as pessoas como entidades inteiras, mesmo quando relativamente relaxada. Agora, os pedaços ameaçadores da professora me rodeavam, atacavam-me por todos os ângulos. Eu me vi num furacão de horríveis sensações e criticismo descabido. Eu precisava da minha mãe e sabia que aquele demônio, em forma de sarcasmo que voava em pedaços tinha o poder de manter minha mãe longe de mim. Eu não me lembro como tudo terminou."

Além disso, o sistema vestibular e proprioceptivo permite nos sentirmos seguros e equilibrados quando nos movemos, sentamos ou ficamos em pé, também nos permite perceber a proximidade das outras pessoas sem nos sentir invadidos, além de nos dar alertas de proteção caso nos sentirmos em perigo ou ameaçados. Além disso, nosso afeto ou emoções também funcionam como uma maneira de perceber o que está acontecendo ao nosso redor.

As crianças em que os sistemas sensoriais funcionam em plena harmonia são capazes de perceber e interpretar bilhões de mini pedaços de sinais sensoriais enquanto eles masterizam a habilidade de interagir com as outras pessoas. Mas as crianças que tem o funcionamento do sistema sensorial comprometido ou que não funcione em harmonia com suas várias “partes” podem não perceber ou interpretar de forma peculiar estes pedacinhos de informações enquanto elas aprendem a interagir com o mundo. Aprender a focar a atenção, aprender a interagir e se relacionar com os outros, e a habilidade de aprender a se comunicar provavelmente serão afetados pelo sistema sensorial desbalanceado.

Milhões de vias neurológicas no cérebro interpretam os milhões de pedacinhos de informações sensoriais acumulativas que recebemos e percebemos a cada segundo através do sistema de processamento sensorial. É aqui que damos sentido ao que vemos, ouvimos, cheiramos, degustamos, tocamos e sentimos.

O processamento sensorial (dar sentido ao que sentimos e percebemos) é a primeira forma de processamento que ocorre no cérebro. Os recém-nascidos vivem em um mundo essencialmente sensorial; sua maior tarefa e desafio são lidar com todos os estímulos sensoriais que recebem. Porém, quase que imediatamente começa um segundo tipo de processamento, o cognitivo, que é a capacidade de perceber padrões e criar conexões entre as coisas e acontecimentos.

Um terceiro tipo de processamento que acontece no cérebro é o emocional ou afetivo e refere-se à nossa capacidade de interpretar os sinais emocionais que recebemos dos outros.

Uma das razões das dificuldades que as crianças com necessidades especiais têm com o processamento cognitivo e emocional é que ambos os tipos de processamentos dependem de estímulos sensoriais e em crianças com deficiência, a informação sensorial pode ser confusamente percebida. Quando recebido o estímulo sensorial, ele pode não ser percebido, ser muito forte e exagerado para ser processado ou pode não ter uma forma ou padrão reconhecível para a criança.


O processamento cognitivo que é o pensar, envolve a manipulação dos dados sensoriais que percebemos em volta de nós. Nós combinamos estes diversos dados em vários padrões sobre os quais podemos fazer julgamentos. A maioria de nós somos mais fortes em um sentido do que nos outros, por exemplo, algumas pessoas são mais visuais, isso quer dizer que conseguem receber o estímulo (informação) sensorial através da visão e fazer sentido dela mais facilmente do que se a informação estivesse sido passada oralmente, através de um estímulo auditivo, por isso nós tendemos a confiar um pouco mais sobre a informação que recolhemos através do sentido que é mais dominante.

O sistema de motor é o sistema que nos permite reagir à informação (estímulo) que percebemos no nosso meio. O planejamento motor é a forma de organizar e executar essas respostas motoras.

Dificuldades com o planejamento motor geralmente estão relacionadas com dificuldades gerais de seqüenciamento.

As complexas interações sociais entre as crianças envolvem tipos ainda mais dúbios de seqüenciamento de comportamento, as crianças são imprevisíveis, em comportamento e expectativas. Descobrir qual a distância que se deve manter de alguém numa interação, estar próximo mas não muito grudado que cause desconforto, ou não tão separado que não demonstre interesse, como ser assertivo sem ser agressivo, como brincar sem parecer desrespeitoso ou perigoso - estes e outros comportamentos sociais envolvem padrões complexos de seqüenciamento.

Criar conexões lógicas entre as palavras, idéias ou conceitos envolve também a capacidade de seqüenciação. Freqüentemente, comportamentos com características que pareçam ser um problema de deficit de atenção ou de organização, podem estar relacionados aos desafios subjacentes da capacidade de seqüenciamento.

Na prática, nossos sentidos que são a porta de entrada das informações que nosso corpo terá que processar, entender e reagir podem contribuir ou serem os fatores para diversos comportamentos, alguns exemplos:

Baixa ou não reatividade e sensações de desejo podem tornar algumas crianças ativas e distraídas.
A falta de planejamento motor pode fazer as crianças parecerem perdidas e desorganizadas.
Problemas de processamento auditivo ou visual-espacial pode levar a comportamentos fragmentados e dificuldade em seguir instruções ou regras.
Hipersensibilidade a sons, imagens ou toque pode facilmente fazer as crianças reativas, distraídas e ansiosas ou oprimidas.

Outros marcadores de uma possível dificuldade de processamento sensorial são crianças muito sensíveis ou medrosas, desafiadoras, egoístas, desatentas, excessivamente ativas e buscando sensações:

A reatividade sensorial ou dificuldades de processamento sensorial podem ser a causa para falsas interpretações das informações emocionais e afetivas das pessoas próximas a criança, acabando por culminar reações emocionais inapropriadas e muitas vezes extremas.

O como nós reagimos às sensações, processamos, planejamos nossos movimentos e seqüenciamos nossas ações afeta como nós funcionamos no mundo – como nos relacionamos com as pessoas a nossa volta, quanto somos capazes de comunicar nossos desejos e idéias e como nós vamos conseguir navegar, o muitas vezes conturbado e instável, mundo das emoções.

Um estudo de perfil individual é necessário para se determinar o programa de intervenção adequado. Deve-se observar como a criança reage aos diversos estímulos sensoriais, em diferentes dias e diferentes horários, deve ser observado os padrões de interação da criança com seus pais e parentes mais próximos e vice e versa, também devem ser observadas a linguagem e as capacidades cognitivas, assim como a saúde geral da criança.



Bibliografia:

Greenspan, S I; Wieder - "The Childwith Special Needs - Encouraging Intellectual and Emotional Growth

Prince-Huges, D (2004) - “Songs of the Gorilla Nation” My Journey Through Autism

Winner, M G - "Thinking about You; Thinking about Me - Teaching perspective taking and social thinking to persons with Social Cognitive Learning Challenges"

Tuesday, August 3, 2010

Pelos caminhos desta vida - Por Haydeé Jacques


Meu nome é Haydée, sou mãe de dois rapazes, Ricardo, 24 anos, filho querido do meu coração, e Pedro, 19 anos, filho querido da minha barriga. Eles diferem em um único ponto, o Pedro é autista, no mais são como qualquer filho, de qualquer mãe, isto é, são simplesmente o máximo!!


Pedro nasceu autista. Quanto a isso não tenho dúvidas. Ele não chorava, não sabia chorar, ele podia se lamentar, mas aquele choro típico de bebê, esse ele nunca teve. Ele tinha enorme dificuldade para dormir, desde recém nascido, quando dormia durante o dia era um soninho rápido a tarde. A noite ele dormia pouco também. Ficava quietinho no berço. Segurá-lo no colo para fazê-lo dormir era impensável, ele ficava muito agitado. Quando saía com ele para passear no carrinho de bebê ele ficava apático, jamais mostrou interesse por alguém, ou algum pássaro, ou ruído, ou pessoa. O que não significava que ele não gostasse dessas coisas. Se alguém chegasse perto dele e falasse alguma coisa ele abria o maior sorriso! Ele adorava círculos, em bebê ele tinha paixão por uma blusa da minha mãe que tinha uns círculos brancos. Ele queria pegar, e todos achávamos muita graça. Pedro demorou, literalmente, anos para comer sozinho. A mamadeira ele só segurou depois de um ano. Não suportava nada que fosse doce, tinha náuseas. Nem pensar em dar um suco de laranja que não fosse muito bem coado, ele ficava com ânsia de vômito com aqueles gruminhos…… comida só pastosa, bem amassadinha com garfo. Jamais brincou de forma funcional com seus brinquedos. Os únicos que ele usava corretamente eram as caixas de encaixe, mas ele repetia ad nauseam essa brincadeira. E, com todas essas características, o pediatra dele, excelente médico e excelente pessoa, docente da Unicamp, achava que eu era louca quando, por acaso, insinuava que algo estava diferente com ele. Como eu trabalhava, o Pedro precisou ir para o maternal aos 11 meses. Aí, sim, a professorinha percebeu, no ato, que algo estava diferente. Foi a minha primeira reunião escolar do Pedro e , de longe, o pior quarto de hora que passei na minha vida. Bem,como algo estava diferente, fomos a luta, Cláudio ( meu marido) e eu. Uma longa jornada, desesperada, angustiante, solitária e totalmente desconhecida. Aos 18 meses ele foi diagnosticado: autista clássico. Junto com o diagnóstico veio o veredito: não há tratamento, não se sabe o que é autismo, não se sabe a causa, alguns casos evoluem bem, outros não, não há como prever. Para não dizer que nos deixaram sem nada, nos recomendaram terapias de estimulação. Que tipo, o que estimular, como estimular……ninguém sabia. Então, lá fomos nós. Só de terapia psicanalítica foram 9 anos. Fono mais uns 12 anos. Equoterapia uns 5 anos. Natação mais vários anos, até hoje ele faz natação.


Escolas são um capítulo a parte. Há 18 anos não havia qualquer legislação relativa a inclusão. As escolas que aceitavam crianças especiais faziam isso como um especial obséquio, e deixavam isso muito claro. Aos 5 anos Pedro começou a ser discrimiado na escolinha em que ele estudava desde 1 ano. Mesmo tendo uma facilitadora, paga por nós. Um belo dia eu percebi que ele estava sofrendo demais com as diferenças que faziam em relação a ele, e eu não tinha notado até então. Meu ódio só foi menor que a minha dor ao perceber o que estava acontecendo. Na mesma hora fui à escola e chutei o pau da barraca, como se diz.

Não dava para desfazer o mal feito, mas, pelo menos, eu deixei claro que eles estavam discriminando uma criança, estavam maltratando uma pessoa indefesa e posando de beneméritos. A partir daí Pedro foi para uma escola especial, da psicóloga dele e sua sócia. Era uma escola com uma linha psicanalítica. Pedro teve alguns ganhos, entre eles, sempre saliento, o treino de corte de cabelo. Foi uma grande vitória pois, até então ,cortar cabelo era uma odisséia. Aos 9 anos ele já tinha necessidades maiores e foi, então, para outra escola, voltada para pessoas com TGDs. Desde então ele se encontra no Instituto SER. Teve muitos ganhos, e, sobretudo, é aceito como um igual entre iguais. Ele adora a escola, então eu estou satisfeita, claro.


O que o nascimento, e posterior diagnóstico, do Pedro significou para nós e para nossa família é outra estória. Acredito que todos nós, pais de crianças especiais, passamos pelo mesmo processo. Mais ou menos longo, mas sempre igualmente sofrido e solitário. É necessário, antes de qualquer coisa, aceitar e entender nossos filhos, antes de poder, realmente, partilhar essa experiência que, sim, é muito enriquecedora, mas, sim, também é muito dolorosa. Até eu entender que o meu filho, aquela pessoinha redondinha, loirinha, com olhos azuis escuros erráticos, era diferente das outras crianças da família e de meus amigos, foi uma longa jornada para dentro de mim mesma. Como fui mãe tarde, 37 anos, já tinha uma certa maturidade e conhecimento de mim mesma que me possibilitaram fazer essa travessia com o mínimo de danos. Mas danos sempre acontecem. Felizmente essa situação tão difícil acabou por aproximar mais ainda nossa família. Tanto eu e meu marido, quanto nós e o Ric. Todos temos sequelas dessa fase, é inerente ao processo. Lembro-me dos momentos de desesperado sofrimento, noites tenebrosas, de choro silencioso no banheiro para não acordar o resto da família, a necessidade de manter uma cara e uma postura serenas frente aos amigos e familiares para não causar sofrimento a eles, quando a vontade é de pedir o colo da mãe…… quem não passou por isso, quando se tem um filho especial? Mas nós sobrevivemos , e somos heróis por isso? Não, por certo que não. Mas somos pessoas melhores do que éramos. Mais fortes, por que nos conhecemos bem e sabemos o quanto podemos aguentar. Mais tolerantes, por que já passamos por poucas e boas e sabemos que as coisas podem, sim, acontecer à nossa revelia e não nos cabe julgar ninguém. Mais amorosos, pois aprendemos a amar sem qualquer expectativa de retribuição. Mais solidários, pois os outros, as vezes desconhecidos, nos ajudaram quando não víamos mais um caminho, e aprendemos que não estamos sós, e que temos a obrigação de olhar ao nosso redor com simpatia e interesse sinceros. Nem por isso somos santos e, as vezes, confesso, tenho uma vontade enorme de pegar os meus dois tesouros e colocar em uma gaveta bem fechada……… e respirar um pouco sozinha, sem ninguém para achar que tem direitos sobre mim . Esses sentimentos passam, e, o mais importante (que a vida me ensinou e que a idade me permitiu afirmar em alto e bom som) não tenho qualquer sensação de culpa ou de inadequação por causa disso!!


Outra coisa que aprendi, a duras penas, é que a natureza tem seu proprio ritmo. Quando nossos filhos são pequenos temos um sentimento de urgência, do tempo passando, do é hoje ou nunca……isso cansa e causa muito desgaste. As decisões importantes devem ser tomadas depois de uma longa ponderação, assim como as ações importantes devem ser efetuadas com calma e conhecimento. Mais vale esperar um mês e descansar, do que fazer por fazer, por que sim e pronto. As coisas não funcionam bem dessa maneira. Precisamos escutar a nós mesmas. Quando estivermos em condições as coisas acontecerão facilmente, ou menos dificilmente. E esse será o tempo certo, não antes, nem depois.


Bem, acho que é isso. Estamos, ainda, em marcha com o Pedrão. Pensando agora em sua vida de adolescente, passeios em bares, baladas, festas. E, sobretudo, planejando o amanhã, pois não somos eternos e, pela ordem natural das coisas, os pais antecedem aos filhos na morte, e os irmãos devem se apoiar, mas nunca um peso na vida do outro. Asim, estamos, nessa fase da jornada, pensando no amanhã do Pedro e do Ric. Depois posso até contar como estamos nos saindo

Por Haydeé Jacques - e-mail: haydeejacques@yahoo.com