Thursday, December 16, 2010

ABA - Applied Behavior Analysis

Análise do Comportamento é o estudo científico do comportamento, Applied Behavior Analysis - análise aplicada do comportamento - (ABA) envolve o que já sabemos sobre o comportamento, baseado nos princípios de comportamento, e assim usar esta informação para trazer uma mudança de comportamento que seja positiva.

Comportamento deve ser entendido como resposta humana a um estímulo e NÃO obediência, a escolha de estratégias a serem usadas para ajudar a criança em seu desenvolvimento e a entender o mundo são baseada na análise do como e porque a criança reage a esses estímulos da maneira que impedem que ela se desenvolva.

A análise do comportamento avalia e acessa as variáveis biológicas e ambientais que cercam o indivíduo e assim pode determinar como essas variáveis afetam o seu comportamento. Com essas informações de análise é possível que um plano educacional/comportamental seja traçado e assim determinadas as ferramentas mais apropriadas para auxiliar o desenvolvimento da criança específica.

Por isso, o princípio fundamental do
ABA é a análise do comportamento, como o próprio nome diz, o trabalho de detetive e tão importante e eu acredito ser a peça crucial do plano educacional.

Outro princípio do ABA é quebrar em pequenas etapas o que deve se ensinado, assim a confusão sobre o tema é aliviada e o aprendizado ganha espaço. Além disso, com a coleta de dados e observação do comportamento da pessoa em tratamento, é possível que se encontrem as raízes das perturbações que causam os desvios de comportamento.

O ABA tem princípios voltados para a obediência da criança e enfatiza o adulto como líder que levará a criança ao aprendizado.

Esta obediência não deve ser encarada como uma força sobre a criança e sim como uma conquista, a verdadeira obediência vem do respeito e entendimento mútuo e não do medo. Quando você conquista uma pessoa através do respeito você pavimenta caminhos de interação e aprendizado.

O que muito se fala sobre ABA são os trabalhos em mesinha ou uma obsessão sobre os reforços tangíveis, essas são algumas ferramentas do ABA e não a técnica em si, só através da análise do comportamento é possível saber se são ferramentas apropriadas para seu filho.


O ABA tem programas estruturados com ferramentas específicas ou genéricas, estes programas desenvolvem o cognitivo, a fala, mudança de comportamentos entre outros.

A base da aplicação do ABA é em terapeutas ou pessoa treinadas, mas nada impede que mãe, pai, tia, tio, avó, voluntário também sejam treinados para aplicar o ABA. Alguns princípios, podem e devem ser carregados para a rotina diária.

Deve existir sim, um coordenador do plano de tratamento e principalmente o plano de tratamento, para que todas as pessoas envolvidas com a criança mantenham a constância necessária para a eficácia do programa.


O ABA, assim como qualquer terapia comportamental deve ser encarada como uma dança, o movimento e comportamento do terapeuta devem estar em sintonia com a criança. Não existe vencer ou perder, o terapeuta é o facilitador entre a criança e o aprendizado, é uma situação em que todos devem vencer.


Bibliografia:

A work in progress. Behavior Management Strategies and a Curriculum for Intensive Behavioral Treatment of Autism by Ron Leaf & John McEachin.

Playing, Laughing and Learning with Children on the Autism Spectrum - A pratical Resource of Play Ideas for Parents and Carers by Julia Moor.



Monday, December 13, 2010

Desenvolvimento pragmático - nossa experiência

Um dos primeiro exercícios para ajudar no desenvolvimento pragmático que eu usei com o Luís foi transformar a idéia abstrata de uma conversa em algo visual e concreto. Naquela época o Luís não tinha interesse por desenhar, porém, mesmo assim eu usei o desenho como meio porque não consegui pensar em outra ferramenta.

Todos os dias nós fazíamos um desenho juntos, esse desenho era composto por formas simples e cada um acrescentava uma forma que trocaria o significado do desenho. Por exemplo, o Luís desenhava um círculo (com prompt total porque ele não tinha interesse em desenhar), daí eu exaclamava que era uma bola, então eu desenhava um cone abaixo da bola e dizia que era um sorvete, então, ainda com o uso do promt total ele desenhava dois olhos e um nariz na bola e então eu exclamava que era um palhaço. E assim íamos transformando as formas intercalando as idéias. Não demorou muito o Luís passou a se interessar em desenhar como uma forma de expressar idéias (sem precisar de prompt) e passou a entender não somente que poderíamos construir uma terceira idéia juntos, mas que também poderíamos mudar de idéia.

Paralelamente, na rotina diária eu passei a enfatizar esse tipo de situação, eu comer carne, ele escolhe macarrão, então podemos comer spaghetti à bolonhesa. É quase como negociar tudo, porém o objetivo é claro, construir juntos a idéia.

Outra técnica que eu usei com ele foi pensando na noção de perspectiva do próximo, então treinávamos várias vezes ao dia em mostrar as coisas para quem estivesse em casa, fotos, brinquedos, desenhos, capas de DVDs, como eu tinha um fluxo grande de gente todos os dias em casa consegui bastante repetição diária com a mesma coisa a ser mostrada, cada dia tínhamos algo diferente para mostrar, mas no mesmo dia só mostrávamos o item escolhido para todos os que vinham, e mostrar significava ter certeza que o outro conseguiu ver, virar o desenho ou foto em direção ao outro, segurar o brinquedo de forma que o outro pudesse vê-lo.


Chegou a hora no desenvolvimento dele de contar fatos, nós começamos com fotos e a relembrar os acontecimentos, isso também fazia parte do nosso programa para organizar a memória (pensamentos), então passamos a usar a técnica do lixo representativo. Todos os fins de semana fazíamos um programa "memorável", podia ser tomar um sorvete, pic-nic no parque, ir ao zoológico, museu. Então, na segunda-feira o Luís levava em um saquinho um lixinho que representasse esse programa, esse saquinho era então grampeado numa folha sulfite e a professora pedia que ele falasse sobre o que estava no saquinho, dai ela escrevia o que ele tinha dito e retornava o saquinho de volta para casa com a folha grampeada. No começo o Luís só dizia uma palavra sobre o lixinho, depois ele passou a dizer mais detalhes do que tinha acontecido. Para reforçar essa memória eu sempre enfatizava na hora de coletar o lixinho, "mamãe vai colocar esse pedacinho de papel no saquinho assim você pode contar para a teacher Wendy o que aconteceu.

Uma das vezes eu enviei terra no saquinho porque eu e o Luís tínhamos plantado algumas sementes naquele fim de semana, porem nós fizemos outras atividades também e na volta veio a frase "birds were flying" e eu me lembrei que havíamos ido ao parque e que nos divertimos fazendo os pássaros voarem. Mesmo que não tenha sido relacionado com o lixinho, o comentário havia sido perfeito, ele compartilhou com a professora o que mais havia gostado no fim de semana e não necessariamente o que eu tinha escolhido. Como a professora não tinha dicas do que havia acontecido ela pôde continuar a conversa sem pensar se o comentário era certo ou errado.

Também seguíamos trabalhando o sequenciamento de imagens e eu tirava fotos das sequências das atividades que nós fazíamos, há um exemplo do sequenciamento das fotos no link abaixo:
http://autismoemacao.blogspot.com/2010/12/enfeites-de-natal.html
e uma vez por semana ele contava a fonoterapeuta o projeto que havíamos feito, detalhando os acontecimentos.

Duas amigas telefonavam diariamente e o Luís contava (da maneira dele) alguma coisa do dia,
elas pacientemente ouviam e contavam algo do dia delas. Como não eram pessoas que o Luís via todos os dias ele passou a entender que não sabemos de tudo o que acontece com todos e que cada um tem uma rotina distinta. A partir deste click ele aprendeu a mentir.


A maior dificuldade do Luís ainda era a postura corporal para a entrada em um grupo e sua manutenção como parte do grupo. Como ferramenta me apoiei no vídeo do Zeebu:
http://playtimewithzeebu.com/
e usávamos a linguagem no dia a dia, em casa criávamos cenas como as do video em que eu conversava com alguém mas não usava o poder dos meus olhos para me manter no grupo, ajustávamos nossa postura (ombros e quadris) para estarem voltados ao grupo. Na escola foi adotada a mesma linguagem e assim facilitava o prompt e sempre era ressaltado o significado da postura corporal nas crianças "olha o Luís está interessado no livro que a professora esta lendo porque seus olhos e ombros estão voltados para a professora."; " Acho que o Luís quer brincar sozinho porque esta de costas para s colegas." (e geralemente ele corrigia a postura para estar socialmente receptivo).


Oi e Tchau ainda são desafios ao Luís, ele não vê o ponto das ações, aos poucos, com lembretes constantes após uma espera pela iniciativa a habilidade esta emergindo, o que ajudou foi o cumprimentar com um aperto ou jogo de mãos.



Também trabalhamos bastante o processo de organizar os pensamentos e a memória, conversar sobre o que ele achava das ações das outras pessoas e o que elas achavam das ações dele. Ressalto, até hoje, o que as pessoas sentem com as nossas ações. " Você acha que o papai vai ficar feliz se nós prepararmos um jantar para ele?"; "O que você acha que a outra criança vai sentir se você não deixar ele ver seu carrinho novo?" Conversávamos bastante sobre a repercussão das ações de uma pessoa sobre a outra nos filminhos e desenhos.


Nesta mesma época introduzi o que você acha na vida dele, também dentro do processo de pensamento com um foco social.