Autismo?! ..... a primeira vez que ouvi esta palavra, eu senti uma dor muito forte. Foi uma dor tão forte que meu corpo pareceu amortecer. Comecei então a tentar me lembrar entre lágrimas, tudo o que eu sabia sobre esta doença (que mais tarde, eu iria descobrir que é uma sindrome). E a única imagem que me vinha em mente era a de um garotinho que recusava o abraço da mãe, e balançava o corpo pra frente e pra trás do filme: “Meu filho, meu mundo!”. Não! Não! Meu filho não tinha autismo. Isto está errado! Este Sr. Dr. está totalmente errado. Meu filho sorri, brinca, abraça e beija muito. Ele é muito esperto no computador. E como é esperto! E tem mais, ele aprendeu a ler sozinho aos 3 anos e 4 meses. Simplesmente assim, começou a apontar os dedinhos e ler as palavras! Talvez seja um gênio! Mas autista, não. Impossível! Sei que ele ainda não fala, mas isto é culpa desta bagunça de idiomas. E provavelmente muita culpa minha. Eu não sei falar inglês. E assim, só converso com ele em português. E tem mais, no playground as crianças falam vários outros idiomas. Logo, se não tivéssemos mudado para os EUA, isto não teria acontecido. Meu filho só precisa de um tempo maior para aprender a falar, e tudo vai ficar bem. E assim, meu coração acalmou. E me despedi cordialmente deste tal Dr. pensando que ele estava totalmente errado.
Mas o que é mesmo AUTISMO?! Confesso, que mesmo sem querer pensar novamente no assunto, aquele tal Sr Dr. me deixou preocupada. Enfim, ao chegar em casa corri para pesquisar na internet. Meu marido teve que voltar para o trabalho, e assim eu fiquei sozinha com as minhas dúvidas, e livre pra navegar e chorar. E surpresa, existe muita informação disponível, mesmo em português. Escolhi uma webpage e comecei a chorar de novo. Logo na entrada desta webpage dizia, autismo não tem cura e é para toda vida. Parecia uma sentença de morte! Não consegui ir além da “inicialização” da webpage. Desisti! Resolvi fazer um chá, e tentar parar de chorar. Covarde?! Nunca fui covarde, mas eu sinceramente precisava de um tempo. Algo estava errado com meu bebê, e eu precisava saber o que era para poder ajudá-lo. E assim, falando comigo mesma dizia: “Calma! Coragem! Vamos lá, coragem! Seu filho precisa de ajuda!”. E me munindo de outra xícara de chá, voltei para a internet. E comecei a ler tudo o que encontrava pela frente. De acordo com o Wikipedia (uma enciclopedia online), temos: “Os sistemas diagnósticos (DSM-IV e CID-10) têm baseado seus critérios em problemas apresentados em três áreas, com início antes dos três anos de idade, que são: a) comprometimento na interação social, b) comprometimento na comunicação verbal e não-verbal, e no brinquedo imaginativo, c) comportamento e interesses restritos e repetitivos.” Infelizmente, meu filho se encaixava em duas destas caracteristicas. Tinha um grande problema de comportamento, na escolinha ele não brincava com as crianças e procurava sempre um “cantinho” para brincar sozinho com algum brinquedo. O que nós julgavamos ser timidez, ou dificuldades com o idioma. Possuia atraso na “fala”. Aliás, o atraso de fala foi a primeira caracteristica a ser notada. Infelizmente, somente eu pensava assim. Todos os membros da familia, amigas e a pediatra infantil acreditavam seriamente que eu era uma mãe ansiosa demais. E que meu filho estava super bem. Não sei quantas vezes eu ouvi o clichê: “- Meninos falam mais tarde que meninas! Relaxe! Voce é uma mãe muito ansiosa!”. E diante de todas estas acusações eu fui me calando. Afinal, meus pais, sogros, tias e a pediatra tinham mais experiência do que eu, uma mãe de primeira viagem. Já a caracteristica de comportamento e interesses restritos e repetitivos, eu não percebia nada. Enfim, meu filho não era autista, e o tal Sr. Dr. estava errado! Mudei de webpage, e achei outra página interessante que continha comportamentos caracteristicos dos autistas. Entre os comportamentos mais comuns temos:
• usa as pessoas como ferramenta;
• resiste a mudanças de rotina;
• não se mistura com outras criancas;
• apego não apropriado a objetos;
• não mantém contato visual;
• age como se fosse surdo;
• resiste ao aprendizado;
• não demonstra medo de perigos;
• risos e movimentos não apropriados;
• resiste ao contato físico;
• acentuada hiperatividade física;
• gira objetos de maneira bizarra e peculiar;
• as vezes é agressivo e destrutivo;
• modo e comportamento indiferente e arredio.
Girar objetos?! Meu filho adorava girar os dvds no chão. Mas ele só esta brincando. Movimentos não apropriados?!... ele andava na ponta dos pés e muitas vezes agitava as mãos. Isto de fato era estranho, mas acontecia com pouca frequencia. Hiperativo?!...sim, sem duvida alguma! Age como se fosse surdo?!... as vezes, ele é meio desligado. Mas o importante é que ele não se encaixa em “todas” as caracteristicas. Logo, meu filho não é autista. De fato, o Sr Dr está errado. Meu filho possui problemas com o atraso de fala e de comportamento, mas esta longe de ser um garotinho autista como do filme. Ou levemente semelhante como “Ray man”.
Hoje, quase 4 anos depois de receber o diagnóstico do autismo, eu entendo as dúvidas e incertezas que ocorrem nos corações de uma família ao receber este diagnóstico. Não acredito que estas famílias estejam negando o diagnóstico. Sinceramente acredito, que assim como eu, estas famílias estão tentando descobrir o verdadeiro problema de sua criança. E infelizmente, devido ao fato do autismo ser uma síndrome (e não uma doença) muito complexa, possui diversas particularidades, e nem todas estas características se encaixam nas crianças recém diagnosticadas. Ou muitas vezes, a família por inexperiência não consegue observar os “comportamentos repetitivos”. E a “resistência por mudanças” é em geral confundida como “birras”, ou seja, coisinhas simples de criança. Ou puramente falta de “pulso firme” da mãe.
Atualmente, meu filho está com 7 anos, e eu sei que ele é autista. Sabe falar, ler e escrever. Ainda possui muitos problemas de comportamento, e nós continuamos trabalhando em busca de melhorias. Durante todos estes anos, desde o diagnóstico que mudou totalmente nossa vida, tivemos momentos muito ruins como agressão física, que felizmente se modificou. E momentos que considero um verdadeiro milagre, como as primeiras palavras faladas por meu filho. Perdemos alguns amigos, ou melhor dizer, eles se afastaram. E felizmente, ganhamos outros. Sendo que muitos destes novos amigos são famílias dos grupos online, que vivem as mesmas situações que nós. Estes grupos online são um importante ponto de apoio, e troca de informações. São minhas irmãs e irmãos de luta! Quanto ao futuro, não sei o que isto nos reserva. E procuro evitar perder muito tempo pensando sobre isto. No momento, estamos fazendo tudo o que podemos para tentar garantir um futuro mais tranquilo para meu filho e outras crianças autistas. É uma luta muito dificil, mas felizmente não estamos sozinhos.
Referencias:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Autismo
http://www.autistas.org/comportamento_caracteristico.html
Por Ana Muniz - e-mail: mkpa.us@hotmail.com