Autismo é reconhecido como uma
desordem em espectro com vários graus de intensidade. É de difícil
definição porque a síndrome é complexa e não há duas pessoas com o
diagnóstico de autismo que manifestem a síndrome da mesma maneira.
Pessoas com autismo têm “atraso ou funcionamento anormal” em algum grau nas trêss área seguintes:
-
- Interação social
- Comunicação
- Padrões de comportamento que são manifestados através de interesses ou atividades estereotipadas, restritas e/ou repetitivas.
Porém, no autismo, um dos
pontos-chave da dificuldade está no desenvolvimento emocional. As
pessoas com autismo têm como desafio a motivação, a persistência, o
auto-controle e a curiosidade.
O que mais caracteriza o autista não são os comportamentos apresentados, mas sim a omissão, o que a criança não faz, ou desconhece. O diagnóstico de autismo é mais preciso se baseado na dificuldade ou falha da pessoa em função do domínio específico sócio-comunicativo e relacional.
É importante ressaltar que o
diagnóstico de Autismo, Asperger ou Transtorno Global do Desenvolvimento
não prediz as dificuldades que a pessoa enfrentará na vida, tampouco
define um prognóstico, e nem mesmo fornece aos familiares ou
profissionais muita informação sobre o potencial individual da pessoa
diagnosticada.
É muito provável que as
características descritas da síndrome sejam descrições de mecanismos de
defesa, e não de orientação inata. O nosso cérebro está sempre em busca
de equilíbrio, enquanto processamos o que vemos, ouvimos, cheiramos,
degustamos ou sentimos. Todas as nossas experiências sensoriais e
emocionais impulsionam o crescimento de conexões, daí vem a necessidade
pela busca da regulação.
Essa busca acontece através da
auto-regulação e da corregulação emocional. Nós nascemos com a
necessidade de desenvolver auto e corregulação, as duas estratégias são
necessárias para que o mundo à nossa volta e as sensações das nossas
experiências façam sentido para nós. Sendo que a corregulação, nos
sistemas de pessoas com desenvolvimento típico, amadurece primeiro.
Autoregulação são as estratégias que desenvolvemos, centrados em nós mesmos.
Quando estamos em um estado de
ansiedade usamos estratégias de autoregulação, como colocar coisas na
boca (chicletes, balas, comida, café, cigarro), mover as mãos ou pernas,
levantar, andar, buscamos nos entreter de alguma forma que acalme o
nosso sistema nervoso. As pessoas com desenvolvimento social típico,
escolhem estratégias adequadas ao contexto social em que estão no
momento, já as pessoas com deficits sociais, como no autismo,
simplesmente buscam a estratégia mais conhecida deles para essa
autoregulação. Porém, as experiências sensoriais, mesmo de
autoregulação, provocam em nós uma resposta emocional.
Corregulação depende da troca emocional com o outro.
A capacidade de corregular a
emoção acontece através da simples presença do outro, do toque, do
olhar, do tom de voz. As crianças em geral, aprendem melhor através de
brincadeiras positivas que incluam movimento, de uma maneira que essa
interação mostre uma intenção clara no relacionamento, sem demandas
excessivas e fora de contexto. A habilidade do cérebro em organizar
essas informações relacionais é mais sofisticada se focada nessas
características englobando o desenvolvimento emocional, do que com o uso
de palavras explicativas.
As pesquisas na neurociência
estão ajudando a explicar como e por quê um bom desenvolvimento
emocional é essencial para entender relacionamentos, pensamento lógico,
imaginação, criatividade e até a saúde do corpo. Especialistas em
desenvolvimento concordam que o único fator que otimiza o potencial
intelectual da criança é um relacionamento seguro e de confiança com
seus pais e cuidadores. Por isso, o tempo gasto com chamegos,
brincadeiras, atenção total e uma comunicação consciente com a criança
estabelece uma relação segura e de respeito que é a base da pirâmide do
desenvolvimento infantil. Com um sistema emocional seguro, a criança
consegue se concentrar em explorar o mundo à sua volta, impulsionada
pela curiosidade
"TODO COMPORTAMENTO É IMPULSIONADO POR UMA EMOÇÃO, VOCÊ MUDA COMO UMA PESSOA SE SENTE E ASSIM MUDARÁ COMO ELA PENSA E SE COMPORTA." (ERIC HAMBLEN) |
A capacidade de corregular a
emoção abre as portas para outras tantas habilidades importantes no
desenvolvimento social, como coordenar-se com outra pessoa, seguir e
compartilhar interesses.
Por volta dos 18 meses de
idade, crianças com desenvolvimento típico já têm a habilidade de se
coordenar fisicamente com seus pais, através do movimento de uma forma
reflexiva e fluente, com pouquíssimo suporte. Com essa habilidade de
coordenar movimento "masterizada", pode-se mover o relacionamento a um
patamar verbal com uma troca de interesses, em que podemos compartilhar
com a criança o que nos interessa e vice-versa.
Pessoas com autismo têm
dificuldade de desenvolver a corregulação emocional, por isso tendem a
buscar a regulação através da autoestimulação. Criar jogos e
brincadeiras que estimulem a coordenação física de movimentos entre duas
pessoas, como o simples ato de caminhar juntos à uma distância que
permita uma troca social - esaa distância é no máximo de um braço -,
fazer atividades diárias juntos, pensadas em uma forma de coordenar o
movimento como no ato de puxar o lençol juntos para arrumar uma cama,
carregar cestos e sacolas juntos, já são exercícios que estimulam a
corregulação.
O cérebro humano tem um grande
desejo em agradar, em impactar as outras pessoas de forma positiva,
primariamente. Somos programados para causar reações emocionais nas
pessoas à nossa volta. Quando nossos sistemas têm uma desorganização,
muitas vezes só conseguimos esse impacto emocional através de
comportamentos opositores e provocativos. Mesmo nesses casos, o cérebro
ainda receberá uma recompensa emocional mais forte se a pessoa aprender
estratégias para impactar positivamente os outros. É um processo de
volta ao curso natural, que não é fácil e imediato, mas extremamente
necessário para uma melhor qualidade de vida e que depende do
desenvolvimento da corregulação emocional.
Através da habilidade de
corregular a emoção, também somos capazes de influenciar a nossa própria
emoção, isso quer dizer, se eu estou feliz e eu faço você feliz,
juntos, podemos fazer um ao outro mais feliz. Isso acontece através dos
meus atos em relação a você. É por meio do compartilhamento do olhar, do
toque, do tom de voz usado e das experiências, que nós vivemos juntos.
"Através de interações, não
apenas com seus pares, mas também com outros adultos, além da capacidade
de adultos e crianças intuitivamente interagirem entre si — para
compartilhar suas ideias, seus pensamentos, suas experiências juntos,
com o objetivo de que ambos compreendam e sintam emocionalmente a
presença um do outro — e assim sentir a intensidade ou intimidade, é
que desenvolvemos relações pessoais mais significativas neste mundo."
(Eric Hamblen)
As pessoas com autismo não
querem viver isoladas, elas precisam, assim como cada um de nós, do
convivio e do compartilhamento com outras pessoas. Ajudá-las e
desenvolver a corregulação emocional, o compartilhamento de sentimentos,
a ampliação da alegria, dividir suas incertezas e angústias, ter um
guia para descobrir o mundo são metas a serem seguidas, para que as
pessoas com autismo e suas famílias tenham uma melhor qualidade de vida.
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