O Pedro é um adolescente com autismo severo, isso quer dizer que ele precisa de monitoramento e suporte as 24 horas do dia, isso NÃO quer dizer que ele não faça nada sozinho, por ele e pelos outros.
Sua fala veio por volta dos 10 anos, aqueles diálogos cansativos em que ele faz as perguntas que já sabe a resposta, mas ele não precisa ficar estagnado aí, ele merece mais ...
O diálogo predominante era:
- Você quer maçã? - Perguntava o Pedro quando ele queria pedir maçã. - no início da sua fala isso já era o bastante para repetirmos a pergunta e dar a resposta. Mas, chegou o momento que ele mereceu mais ...
Então o diálogo se transformou em:
- Você quer maçã? - Perguntava o Pedro
- Não, obrigada. A mamãe não quer maçã. - eu reposdia
E o Pedro ficava ali, perplexo me olhando, sua perplexidade puxou seu cérebro a tentar novas estratégias. - Sim!- Agora não - ou - Pode pegar. - respostas que ele ouvia, mas eu seguia ali, a espera. Na primeira semana ele desistiu algumas vezes, outras demorava uns bons minutos até pensar com a própria cabeça e pedir. - Posso comer maçã? - e esse é o goal, que ele pense com o próprio cérebro.
Na segunda semana já acionava o pensamento em 5 segundos.
Na terceira semana a pergunta já vinha da forma correta na primeira tentativa, então, porque ele merece sempre mais ... chegou a hora de corrigir seu tom de voz.
Pedro usa um tom de voz de estresse, agudo, é quase uma característica dele o tom que usa ao responder "não", porque ele merece sempre mais o meu objetivo é retirar esse estresse do seu tom de voz, que tem razões importantes para desaparecer explicadas por seu terapeuta Eric Hamblen (AT EASE Model) e que eu não me lembro bem, mas sei que já está mais do que na hora de ajustar mais isso na vida do Pedro.
Muito se fala em diagnóstico precoce, em intervenção precoce e de fato intervir precocemente é super importante, mas não dá pra acreditar que intervenção em crianças de 5 anos é precoce, isso é só intervenção. E o tratamento deve seguir pela vida, acompanhando a idade da pessoa, não dá para segurar nossas crianças numa eterna infância, por mais que eles pareçam gostar, simplesmente não é saudável e não incentiva o desenvolvimento.
Sim tem muitas habilidades que eles ainda precisam adquirir, mas há sempre maneiras adaptáveis conforme a idade para as habilidades serem trabalhadas.
O Pedro ainda precisa de treino para uma melhor consciencia corporal, cruzar a linha mediana, agachar e levantar, ritmo, mas aos quase 13 anos não dá para ficar no 10 indiozinhos.
Na minha experiência, criar meus filhos autistas é um constante reiventar. Não quero meus filhos dependentes de rituais ou de rotinas explicadas, quero meus filhos soltos e relaxados com a certeza que as pessoas estão no mundo para dar suporte umas as outras, não para serem usadas em rituais, e em alguns momentos eles serão os que darão suporte.
Não quero a dependência em tablets, apps, cachorros ou qualquer outra estratégia, simplesmente não quero dependência que não seja a saudável emocional. Quero que eles sejam sempre capazes de tolerar confusão pois sentir-se confuso é uma etapa importante do aprendizado, e quero eles sempre aprendendo, quero eles capazes de tolerar frustrações porque essa tolerância é fundamental para os seres sociáveis.
Quero um mundo melhor, mais solidíario, mais inclusivo para meus filhos e todas as gerações, quem não quer?
Mas quero mais que isso, quero meus filhos para o mundo, para serem contribuidores pela solidariedade, compaixão e inclusão.
Marie Dorión